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Ação educativa na creche

Categorias de Estudo: Tempo – Espaço – Materiais – Relações – Currículo – Educação de 0 a 3 – Creche – DCNEI 

O GEPCEI entende que a creche é um direito das crianças de 0 a 3 anos e não pode ser negligenciada no contexto das políticas públicas. Como política estratégica, a creche tem um papel importante para a promoção da igualdade de oportunidades pois, ao oferecer às crianças proteção, segurança e cuidado físico, acolhe também as famílias. Como equipamento público, o atendimento à creche visa promover o acesso das crianças aos bens culturais, proteção e provisão de direitos.  

Pensar na creche como um dispositivo social de provisão, participação e proteção das crianças de 0 a 3 implica pensar em qualidade. Apesar de ser um tema polissêmico, a qualidade está relacionada à valores, culturas, concepções e conhecimentos. Nesse sentido, a qualidade está relacionada à adoção de um projeto pedagógico comprometido com as crianças e sua cultura, com a formação inicial e continuada de professores e demais profissionais; com a organização de espaços, tempos, materiais e relações materiais. 

Por ação pedagógica na creche compreendemos o trabalho pedagógico que se proponha a favorecer o desenvolvimento integral das crianças, que devem ser entendidas como protagonistas das suas aprendizagens. Isso significa um trabalho intencional que oportunize a brincadeira e a interação com outras crianças, adultos, seres vivos e objetos. Uma ação pedagógica que promova o protagonismo, as vivências e as experiências para que as crianças de 0 a 3 anos possam fazer escolhas, tomar decisões, manifestar desejos e ser acolhida. 

Para Proença (2004, p. 14):

em qualquer trabalho pedagógico, é fundamental que seja explicitada a concepção que se tem como norteadora da proposta desenvolvida, além de se ter clareza de por que e para que uma criança pequena vai a escola. Há vários objetivos que permeiam o trabalho de educação infantil na articulação entre o cuidar e o educar, em especial a construção da sociabilidade, da aprendizagem e da independência em prol de sua autonomia, bem como os cuidados necessários à sua higiene, à alimentação, à segurança, às brincadeiras e ao vínculo afetivo.

Estamos falando, portanto, de um trabalho intencional em que as rotinas pedagógicas nas instituições de educação infantil devem expressar os valores políticos, sociais e culturais. O sentido de rotinas não pode aqui ser traduzido em práticas repetitivas ou enfadonhas. As rotinas são produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia-a-dia, tendo como objetivo a organização da cotidianeidade. (BARBOSA, 2006). São dispositivos espaços-temporais que expressam o cotidiano do trabalho nas instituições. O cotidiano das instituições de educação infantil permitem a abertura para o novo, o inesperado, para a descoberta, para a procura. 

Segundo Barbosa, as rotinas:

operam com o objetivo de estruturar, organizar e sistematizar as ordens moral e formal – acentuando seus esforços na ordem moral – afinal, um dos principais papéis da escolarização inicial é o de transformar as crianças em alunos. Para desempenhar esse papel, as rotinas utilizam-se de rituais – cerimônias, castigos, imagem de condutas, caráter, modos valorizados de ser e proceder – que relacionam os indivíduos com a ordem social do grupo, criando um repertório de ações que são compartilhadas com todos e que dá o sentimento de pertencimento e de coesão ao grupo. A rotina desempenha um papel estruturante na construção da subjetividade de todos que são submetidos a ela (BARBOSA, 2001, p.5).

Refere-se à consecução de um projeto pedagógico que acolha o mundo social das crianças e as ajude a se verem como sujeitos nesse mundo. Um trabalho intencional implica: a) uma proposta pedagógica constantemente revisitada e avaliada; b) a promoção de atividades que ampliem as experiências e linguagens das crianças; práticas cotidianas que despertem a autonomia das crianças; c) atividades que coloquem as crianças em contato com ações para conhecer, experimentar e expressar; d) vivências de interações entre crianças-crianças, adultos-crianças; e) prática de promoção da saúde. 

Estamos falando, portanto, de uma educação infantil para as crianças de 0 a 3 anos que atendam aos preceitos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI, Parecer CNE/CEB no 5/2009), particularmente naquilo que ela orienta como eixos da educação infantil: as interações e as brincadeiras. Isso implica considerar a criança como: “Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura”. (Art. 4º) 

Da mesa forma as DCNEI reafirmam a importância dos princípios ético, estéticos e políticos nas propostas pedagógicas voltadas para as crianças de 0 a 3 anos:

I – ÉTICO – Da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades;

II – ESTÉTICO – Dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. 

III -POLÍTICO – Da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. (BRASIL, 2009, art. 6º, incisos I, II e II)

Os tempos, os espaços, os materiais e as relações na creche devem garantir à criança o acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens presentes nas diferentes linguagens, nas trocas de afetos, nos processos de interação com outros sujeitos, com o ambiente e com os materiais. A relação com esses últimos deve ter por finalidade sua função de produção, transformação, invenção, construção. (TONUCCI, 2008) 

A creche deve ser um espaço de acolhida e de promoção das experiências de vida da crianças, tendo em vista: 

  • as interações e a brincadeira; 
  • o conhecimento de si e do mundo; 
  • a ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais; 
  • a expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos;  
  • as expressões e linguagens; 
  • as experiências de narrativas; 
  • o desenvolvimento da confiança e da participação; 
  • a autonomia nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;  
  • as vivências éticas e estéticas; 
  • a promoção das identidades no diálogo e conhecimento da diversidade; 
  • a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza;  
  • as manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;  
  • a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra; 

 

A creche deve ser, antes de tudo, um espaço do brincar e do viver. Ao brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços utilizados pelas crianças assumem outros significados. Para (KUHLMANN Jr, 1999):

a caracterização da instituição de educação infantil como lugar de cuidado-eeducação, adquire sentido quando segue a perspectiva de tomar a criança como ponto de partida para a formulação de propostas pedagógicas. Adotar essa caracterização como se fosse um dos jargões do modismo pedagógico, esvazia seu sentido e repõe justamente o oposto do que se pretende. A expressão tem o objetivo de trazer à tona o núcleo do trabalho pedagógico conseqüente com a criança pequena. Educá-la é algo integrado ao cuidá-la. (KUHLMANN, 1999, p. 60)

 

REFERÊNCIAS 

OLIVEIRA, Zilma M. R. de. Educação infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez, 2007. 

PROENÇA, M. A. de R. A rotina como âncora do cotidiano na educação infantil. Pátio Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, ano II, n. 4, p. 13-15, abr./jul., 2004. 

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. 

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. A rotina nas pedagogias da educação infantil: dos binarismos à complexidade. Currículo sem fronteiras, v. 6, n. 1, p. 56-69, jan./jun. 2006a.

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