Categorias de Estudo: conhecimento, Psicologia Histórico Cultural, história, cultura, zona de desenvolvimento proximal
Como o GEPCEI compreende o lugar da criança na produção e relação com o conhecimento? Que conhecimentos contribuem para a ampliação do repertório de mundo das crianças? Como se dá o processo de complexificação daquilo que as crianças aprendem no cotidiano das instituições educativas? Que lugar ocupa o conhecimento novo-velho e o passado-presente na apreensão das crianças? E o lugar da cultura como síntese dessas relações humana-socias das crianças na construção do conhecimento? Essas são algumas das indagações que esse grupo de pesquisa se propõe a debate em seus estudos e pesquisas.
Do ponto de vista da Psicologia Histórico Cultural as pesquisas na infância devem considerar o desenvolvimento omnilateral da criança. Ou seja, em sua totalidade. Para isso, é necessário partir da compreensão de que a criança se situa no escopo daquilo que constitui a vida genérica do homem, portanto, em sua universalidade. Assim, ainda que ela se constitua com criança, ela também está referida como homem. E o que constitui o homem? É pelo trabalho/ação que o homem se afirma como sujeito de sua existência, construindo um mundo humano e humanizando-se nesse processo. Isto significa, produção de cultura. Este processo é dialético reafirmando o lugar do homem na produção de um conhecimento que saia do nível da aparência em busca da essência dos fenômenos e dos objetos.
Trata, portanto, da afirmação de um sujeito, por meio do uso da linguagem e do pensamento, situado na história. Seu pensamento é, portanto, expressão de sua presença no mundo quando ele trata do conhecimento como ato humano. Ele o questiona, o interroga, o estranha e o válida. Neste ato, a produção do conhecimento é um processo de interferência do homem sobre o real e do real sobre o homem, isto é, um processo de interação que envolve o sujeito e o mundo. Sendo um processo que conta com a presença do homem, ele é histórico e é ação.
Enquanto processo de descobrimento do real, a “verdade” do mundo e do homem não é dada; é buscada. E nesta procura ela é construída, marcando o homem e o mundo, transformando o homem e o mundo, deixando gravadas no homem e no mundo as marcas da ação do homem sobre o mundo e do mundo sobre o homem. É deste lugar que falamos de uma criança produtora de conhecimento e de cultura
Afirma que o debate sobre o conhecimento na Educação Infantil é necessário porque a criança está no mundo organizado por signos e significados produzidos culturalmente e ela precisa de conhecimentos para participar deste mundo. Portanto, observa-se que há lacunas a serem preenchidas por pesquisas e por políticas públicas.
Nesse sentido, Rocha (2003) esclarece que,
enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como objeto fundamental o ensino nas diferentes áreas, através da aula, a creche e a pré-escola têm como objeto as relações educativas travadas num espaço de convívio coletivo e têm como sujeito a criança.’ Na compreensão da autora, a constituição deste espa- ço de convívio coletivo não abre mão dos processos de aquisição, produção e socialização do conhecimento historicamente acumulado pela sociedade. Ao contrário, defende que creches e pré-escolas reconheçam “as crianças como seres humanos em diferentes contextos sociais”, ao mesmo tempo em que o conhecimento por elas vivenciado no interior destas instituições tenha como foco as “capacidades intelectuais, criativas, estéticas, expressivas e emocionais” das crianças. (p. 5, grifos da autora).
Do ponto de vista do processo de aquisição do conhecimento, defende-se o posicionamento de que as instituições de educação infantil são espaços em que as crianças, além de brincar e de se socializar, têm o direito de aprender os conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade. É isso que faz delas instituições educa- tivas que têm como natureza sua vinculação com a educação básica e o fato de esta- rem situadas nas redes de ensino. É precisamente o sentido pedagógico e sistematizado que as torna um processo educativo diferente de outras práticas institucionais. Todavia, a apreensão desse conhecimento não se dá numa lógica “escolarizante”, muito menos conteudista.
A educação infantil é um bem público, que deve primar pela qualidade social e que tenha como princípio o pressuposto de que todas as crianças podem e devem aprender e se desenvolver em contextos de instituições públicas culturalmente significativas. Uma educação infantil de qualidade não é privilégio de poucos, mas, acima de tudo, direito subjetivo de todas as crianças.
Ao tratar da relação criança e conhecimento o GEPCEI busca a defesa por um processo que visa:
“I – oferecer condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos civis, humanos e sociais; II – assumir a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e cuidado das crianças com as famílias; III – possibilitar tanto a convivência entre crianças e entre adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas; IV – promover a igualda- de de oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância; V – construir novas formas de sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa.” (BRASIL, 2009, art. 7º, grifos nossos).
Portanto, a relação da criança com o conhecimento se dá a partir de uma perspectiva histórica e social a partir da qual a própria criança é vista como alguém que produz um tipo de conhecimento que a coloca no mundo com todas as suas formas de subjetividade. Um conhecimento do/no mundo frente a uma criança da/na cultura. Um processo em que a criança coloca sua ação transformadora fazendo uso de suas habilidades do pensamento: memória, imaginação, síntese, julgamento, compreensão, análise, inferência, percepção, comparação, dentre outras que vão ajudando as crianças as se apropriarem do mundo de uma forma lúdica, intensa e construtiva.
REFERÊNCIAS
BRASIL/Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 dez. 2009
ROCHA, Eloisa Acires Candal. A função social das instituições de educação infantil. Revista Zero-a-Seis, Florianópolis, n. 7, jan/jun. 2003.
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