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Desenhos

A produção do desenho infantil nas pesquisas tem sido uma importante estratégia metodológica nas investigações do GEPCEI. Trata-se de um processo de subjetivação das crianças no ato de produção dos desenhos, da mesma forma que se constitui como um importante instrumento dialógico. Por meio dos desenhos os/as pesquisadores/as ampliam as perspectivas da pesquisa com a triangulação de instrumentos e estratégias de escuta. Os desenhos não se constituem, em hipótese alguma, em instrumentos de interpretação dos sentidos atribuídos pelas crianças. Pelo contrário, ampliam a possibilidade de conhecer a própria criança a partir do seu ponto de vista sobre o mundo.

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Em Vygostsky (2015), os significados vêm de diversos contextos e não apenas da palavra, conforme ele mesmo cita abaixo, os significados são formas complexas entrelaçando as diversas manifestações. Ele diz que  

o significado é o caminho do pensamento à palavra. O significado não é a soma de todas as operações psicológicas que estão por trás da palavra. O significado é algo mais definido: é a estrutura interna da operação do signo. Isso é o que se encontra entre o pensamento e a palavra. O significado não é o mesmo que a palavra, nem é o mesmo que o pensamento (VYGOTSKY, 2015, p. 75). 

Portanto, é possível aferir sobre os desenhos das crianças sentidos e significados com base no caminho do que se possa compreender entre as manifestações apresentadas, comumente como expressão de formas das quais não se poderá esgotar todas às análises, mas, linguagem destituída de voz. Constam fragmentos do sujeito, seus medos e seu grito, ao mesmo tempo porta-voz de suas próprias análises sobre seu cotidiano.

Sobre o desenho podemos ultrapassar os meios tradicionais adultocêntricas e, apreender por formas além das oralizadas e escritas, sobre a multiplicidade de linguagens que estão no contexto infantil, de quem desenha e sobre as demarcações de diversos contextos (GOBBI, 2002).

1 Tradução original: El significado es el camino del pensamiento a la palabra. El significado no es la suma de todas las operaciones psicológicas que están detrás de la palabra. El significado es algo más definido: es la estructura interna de la operación del signo. Eso es lo que se halla entre el pensamiento y la palabra. El significado no es igual a la palabra, ni es igual al pensamento (VYGOTSKY, 2015, p. 75).

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Os desenhos das crianças foram utilizados como uma tentativa de compreender a elaboração infantil acerca das brincadeiras e da interatividade numa tentativa de captar o pensamento da criança por meio dos traços feitos por ela. Foram três tipos de desenhos, cada um feito para responder às perguntas: se não fosse uma criança, o que gostaria de ser? Qual sua brincadeira favorita? Quem é seu melhor amigo?

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Com relação ao desenho como instrumento de obtenção de dados, cabe ressaltar que este não foi utilizado nos moldes psicanalíticos, mas sim, como instrumento para o aprofundamento do diálogo com as crianças. Gobbi (2002, p. 73), ao eleger o desenho como rica ferramenta na pesquisa com crianças, coloca “os desenhos infantis em conjugação à oralidade como formas privilegiadas de expressão da criança”, e 

quando se trata dessa busca, vem o desenho surgir como um grande instrumento de pesquisa, utilizado largamente por pesquisadores das mais variadas áreas. Na escuta de como as crianças veem, expressam, simbolizam e representam o mundo e as relações que mantém com ele nas mais variadas esferas, pesquisadores lançam mão, dentre outros recursos, do desenho infantil, muitas vezes junto à oralidade (GOLDBERG; FROTA, 2018, p. 176). 

As atividades de desenho foram realizadas em quatro dias consecutivos, a saber: desenho e literatura, construção de livro coletivo, espelhamento de desenho e silhuetas. Em “desenho e literatura”, a obra literária lida foi Tudo bem ser diferente, de Todd Parr, e, logo após, iniciaram-se os desenhos e os diálogos com (e entre) as crianças. Para a construção do livro coletivo, a pesquisadora realizou a leitura do conto de fadas A Bela e a Fera de Dulcy Grisolia; em seguida, as crianças foram convidadas a inventar uma história de maneira coletiva, cuja narrativa foi registrada em fichas coladas posteriormente nas folhas do livro. Feito isso, as crianças escolheram as páginas que desejavam ilustrar, com base nos elementos textuais produzidos e colados em suas folhas. Enquanto desenhavam, desenrolaram-se os diálogos sobre a temática do estudo.

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Ao participarem de momentos de desenhos e rodas de conversas, as crianças tiveram a oportunidade de expor os sentidos e significados do tema proposto, e essas atividades foram guiadas por um roteiro de perguntas. Usou-se o desenho na pesquisa por este ser um recurso bem familiar para a criança, no qual há a possibilidade de expressar ideias e sentimentos, como disparador da conversa, um facilitador do diálogo. Pires (2007, p. 136) afirma que o “o desenho é um material de pesquisa interessante para captar justamente aquilo que primeiro vem à cabeça, aquilo que é mais óbvio para a criança”. Falar sobre o desenho, proporcionando um momento de diálogo, é outro recurso metodológico que ajuda as crianças a se sentirem à vontade com a pesquisadora.

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